sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

MÚSICA HIDROGRÁFICA BRASILEIRA

[EcoDebate] O que significam os rios para o interior do Brasil e para a cultura popular é algo do indizível. Isso é assim porque os rios são como a seiva dos lugares, dos territórios. São como membros de uma grande família e, se um deles morre, toda a familia padece junto. São como limites de uma casa, nossa casa, e não é à toa que estamos delimitados de norte a sul pelo Oiapoque e pelo Chuí: dois rios.
Na semana passada, o Rio Doce, em Minas Gerais, foi sepultado de uma só vez, numa tragédia histórica e aparentemente irreversível. Não foi como acontece com muitos outros rios, arroios, riachos, que gemem diariamente da agonia dos despejos e das drenagens e dragagens incessantes. O Rio Doce foi sepultado vivo, sem direito nem a gritar, numa violência que só uma criatura das bem ruins pode fazer. Infelizmente, é justo a criatura humana, supostamente a mais sábia entre todas, quem vem se especializando nessas ruindades, batizando-as disfarçadamente de “acidentes”, “desastres” e outros eufemismos, conforme intenções mais ou menos veladas.
Não é somente pela pesca que os rios se fazem fundamentais, também é pela presença e pela sua capacidade de favorecer a multiplicação dos recursos naturais. Pelo frescor da vegetação de seus arredores e a rarefação dos ares. Pelas piracemas milagrosas. Pelas nascentes, brotadouros e pelos olhos d’água. Pelas Iaras fantásticas, aparições e pelos animais de verdade que, agora, perdem sua casa, sua imagem, sua sombra no chão da existência.