terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

UNIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

20.02.12 - Mundo
Universidade e inserção social
Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais
Adital
Por que dizemos universidade e não pluriversidade? Trata-se de uma instituição que comporta diferentes disciplinas. Multicultural, nela coabita a diversidade de saberes. O título universidade simboliza a sinergia que deveria existir entre os diversos campos do saber.
Característica lamentável em nossas universidades, hoje, é a falta de sinergia. Carecem de projeto pedagógico estratégico. Não se perguntam que categoria de profissionais querem formar, com que objetivos, de acordo com quais parâmetros éticos.
Ora, quando não se faz tal indagação é o sistema neoliberal, centrado no paradigma do mercado, que impõe a resposta. Não há neutralidade. Se o limbo foi, há pouco, abolido da doutrina católica, no campo dos saberes ele nunca teve lugar.
Um cristão acredita nos dogmas de sua Igreja. Mas é no mínimo ingênuo, senão ridículo, como assinala o filósofo Hilton Japiassu, um mestre ou pesquisador acadêmico crer no propalado dogma da imaculada concepção da neutralidade científica.
Em que medida nossas instituições de ensino superior são verdadeiramente universidades, ou seja, se regem por uma direção, um enfoque dialógico, um projeto pedagógico estratégico? Ou se restringem a formar profissionais qualificados destituídos de espírito crítico, voltados a anabolizar o sistema de apropriação privada de riquezas em detrimento de direitos coletivos e indiferente à exclusão social?
A universidade, como toda escola, é um laboratório político, embora muitos o ignorem. E a política, como a religião, comporta um viés opressor e um viés libertador. Como diria Fernando Sabino, são facas de dois legumes…
Um dos fatores de desalienação da universidade reside na extensão universitária. Ela é a ponte entre a universidade e a sociedade, a escola e a comunidade.
As universidades nasceram à sombra dos mosteiros. Estes, outrora, eram erguidos distantes das cidades, o que inspirou a ideia de campus, centro escolar que não se mescla às inquietações cotidianas, onde alunos e professores, monges do saber, vivem enclausurados numa espécie de céu epistemológico. Como assinalava Marx, dali contemplam a realidade, tranquilos, agraciados pelas musas, encerrados na confortável câmara de uma erudição especializada que pouco ou nada influi na vida social.
Essa crítica à universidade data do século 19, quando teve início a extensão universitária. Em 1867, a Universidade de Cambridge, Inglaterra, promoveu um ciclo de conferências aberto ao público. Pela primeira vez, a academia abria suas portas a quem não tinha matrícula, o que deu origem à criação de universidades populares.
Antonio Gramsci estudou numa universidade popular na Itália. A experiência o fez despertar para o conceito de universidade como aparelho hegemônico que se relaciona com a sociedade de modo legitimador ou questionador. Para ele, uma instituição crítica deveria, através dos mecanismos de extensão universitária, produzir conhecimentos acessíveis ao povo.
Na América Latina, antes de Gramsci houve o pioneirismo da reforma da Universidade de Córdoba, em 1918. A classe média se mobilizou para que as universidades controladas pelos filhos dos latifundiários e pelo clero se abrissem a outros segmentos sociais. Fez-se forte protesto contra o alheamento olímpico da universidade, sua imobilidade senil, seu desprezo pelas carências da comunidade entorno.

A proposta de abrir a universidade à sociedade alcançou sua maturidade, na América Latina, no 1º Congresso das Universidades Latino-Americanas, reunido na Universidade de San Carlos, na Guatemala, em 1949. O documento final rezava: "A universidade é uma instituição a serviço direto da comunidade, cuja existência se justifica enquanto desempenha uma ação contínua de caráter social, educativo e cultural, aliando-se a todas as forças vivas da nação para analisar seus problemas, ajudar a solucioná-los e orientar adequadamente as forças coletivas. A universidade não pode permanecer alheia à vida cívica dos povos, pois tem a missão fundamental de formar gerações criadoras, plenas de energia e fé, consciente de seus altos destinos e de seu indeclinável papel histórico a serviço da democracia, da liberdade e da dignidade dos homens.”
Sessenta e dois anos depois do alerta de San Carlos, neste mundo hegemonizado por transnacionais da mídia mais interessadas em formar consumistas que cidadãos, nossas universidades ainda não priorizam o cultivo dos valores próprios de nossas culturas nem participam ativamente do esforço de resistência e sobrevivência de nossa identidade cultural. O que deveria se traduzir no empenho para erradicar a miséria, o analfabetismo, a degradação ambiental, a superação de preconceitos e discriminações de ordem racial, social e religiosa.
[Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto – autobiografia escolar” (Ática), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DIRETORES & GLADIADORES


A



"A competição entre escolas públicas, em busca de números de alunos, brutaliza a educação, os educadores e sobretudo o coração dos diretores"

Na Roma Antiga, a luta entre gladiadores era diversão para a realeza, nobreza e para a plebe. Lutavam até que um sucumbisse perante a negra morte.
Na pós-modernidade, os diretores das escolas públicas, conheço de perto a realidade das estaduais, são levados a lutarem um contra o outro atrás de alunos para a escola, uma vez que a escola recebe por aluno.
A princípio é justo que a escola receba verba de seu mantenedor, que é o Estado, de acordo com o número de aluno que atende. Alguns acréscimos poderiam ser feitos, por exemplo, um complemento pelo número de aluno com necessidades especiais, em situação de pobreza ou quem sabe,com alunos delinqüentes, pois esses requerem no seu processo educativo, mais atenção e educadores melhores preparados para viverem essas realidades.
Mas essa busca por alunos, tem levado a diretores difamarem as demais instituições e seduzido alunos a qualquer custo para seu estabelecimento. É uma competição feroz, sem sentido.
Os reis, nesse caso, o governo, gostam disso. Assiste como os antigos reis romanos assistiam os gladiadores. Batem palmas para os vencedores e humilham os perdedores. A nobreza, dono de escolas públicas, agradece o definhamento do ensino público e recolhe em seus estabelecimentos particulares, aqueles que podem pagar.
A plebe, que vive da política pão e circo dos governos neoliberais, como o atual governo de Minas Gerais, ganham pois  passam a chantagear as intituições dizem: “Se meu filho não passar aqui, vai para outra escola.”, Se for tal professor em tal turma, mudo de escola.
Todos nós queremos educação de qualidade para nossos filhos. Sabemos que a escola pública é a única a que os filhos da classe trabalhadora têm acesso. Ela é um meio de emancipação econômica , cultural e social dos trabalhadores. E se a escola tem compromisso de educar para a vida e para a vivência da cidadania, ela também promove a emancipação política.
O que não está legal é essa concorrência, que se estabeleceu no sistema neoliberal do Governo Aécio/Anastasia  aqui em Minas Gerais e nos demais estados governados pelo PSDB/ DEM, a “encapitalização” da Educação. Educação não é uma mera prestação de serviço. Educação é essencial.
Que cada diretor administre a sua instituição com o máximo de competência, e faça com que a escola cumpra seu papel social. Que o crescimento de sua escola não seja sobre o enfraquecimento das demais, e que todos saibam, que nós, trabalhadores da educação, pais e alunos, somos vítimas desse neoliberalismo imposto pela manobra equivocada da pseudo-esquerda mineira.
Diretor é diretor. Gladiador é gladiador. Quando diretores se degladeiam, governos neoliberais sorriem, a nobreza agradece e a plebe alienada tenta pegar as migalhas. A educação de fato não acontece e nós trabalhadores da educação, passamos a trabalhar sob uma pressão que sufoca, desgasta, mata. É o total embrutecimento da educação.

Blog Beatriz Cerqueira: LUTO

Blog Beatriz Cerqueira: LUTO: Nunca vivi tamanha tragédia como a que vivemos com o acidente ocorrido na noite de domingo. Um luto que vai demorar muito para passar, se e ...