terça-feira, 1 de setembro de 2009

CONSTRUTIVISMO

Alfabetização/Construtivista


Ao invés da clássica pergunta: como se deve ensinar a escrever, Emilia
Ferreiro perguntou como alguém aprende a ler e escrever independente do
ensino.

O aluno como sujeito
Níveis estruturais da linguagem escrita
a criança elabora hipóteses sobre a escrita
as atividades devem desafiar o pensamento das crianças e gerar
conflitos cognitivos que os ajudem a buscar novas respostas
A criança é um ser pensante que tem suas lógicas
A escola ainda não entende a interpretação das crianças sobre a
escrita

A cartilha mecanicista, que tem medo do erro e, para evitá-lo,
subjuga a comunicação escrita às sílabas e frases já memorizadas
O construtivismo não é um método
As teorias desenvolvidas por Emilia Ferreiro e seus colaboradores
deixam de fundamentar-se em concepções mecanicistas sobre o processo
de alfabetização, para seguir os pressupostos
construtivistas/interacionistas de Vygotsky e Piaget.
Do ato de ensinar, o processo desloca-se para o ato de aprender por
meio da construção de um conhecimento que é realizado pelo educando,
que passa a ser visto como um agente e não como um ser passivo que
recebe e absorve o que lhe é "ensinado".
Na perspectiva dos trabalhos desenvolvidos por Ferreira, os
conceitos de prontidão, imaturidade, habilidades motoras e
perceptuais, deixam de ter sentido isoladamente como costumam ser
trabalhados pelos professores. Estimular aspectos motores,
cognitivos e afetivos, são importantes, mas, vinculados ao contexto
da realidade sócio-cultural dos alunos.
Para Ferreira, "hoje a perspectiva construtivista considera a
interação de todos eles, numa visão política, integral, para
explicar a aprendizagem".
O problema que tanto atormenta os professores que é o dos diferentes
níveis em que normalmente os alunos se encontram e vão se
desenvolvendo durante o processo de alfabetização, assume importante
papel, já que a interação entre eles é fator de suma importância
para o desenvolvimento do processo.
Os níveis estruturais da linguagem escrita podem explicam as
diferenças individuais e os diferentes ritmos dos alunos. Segundo
Emilia Ferreiro são:
1) Nível Pré-Silábico- não se busca correspondência com o som; as
hipóteses das crianças são estabelecidas em torno do tipo e da
quantidade de grafismo. A criança tenta nesse nível:
diferenciar entre desenho e escrita
utilizar no mínimo duas ou três letras para poder escrever
palavras
reproduzir os traços da escrita, de acordo com seu contato com as
formas gráficas (imprensa ou cursiva), escolhendo a que lhe é mais
familiar para usar nas suas hipóteses de escrita
percebe que é preciso variar os caracteres para obter palavras
diferentes
2) Nível Silábico- pode ser dividido entre Silábico e Silábico
Alfabético:
Silábico- a criança compreende que as diferenças na representação
escrita está relacionada com o "som" das palavras, o que a leva a
sentir a necessidade de usar uma forma de grafia para cada som.
Utiliza os símbolos gráficos de forma aleatória, usando apenas
consoantes, ora apenas vogais, ora letras inventadas e repetindo-as
de acordo com o número de sílabas das palavras.
Silábico- Alfabético- convivem as formas de fazer corresponder os
sons às formas silábica e alfabética e a criança pode escolher as
letras ou de forma ortográfica ou fonética.
3)Nível Alfabético- a criança agora entende que:
a sílaba não pode ser considerada uma unidade e que pode ser
separada em unidades menores
a identificação do som não é garantia da identificação da letra, o
que pode gerar as famosas dificuldades ortográficas
a escrita supõe a necessidade da análise fonética das palavras
Smolka1 diz que podemos entender o processo de aquisição da escrita
pelas crianças sob diferentes pontos de vista: o ponto de vista mais
comum onde a escrita é imutável e deve se seguir o modelo "correto"
do adulto; o ponto de vista do trabalho de Emília Ferreiro onde
escrita é um objeto de conhecimento, levando em conta as tentativas
individuais infantis; e o ponto de vista da interação, o aspecto
social da escrita, onde a alfabetização é um processo discursivo.
Cabe a nós pedagogos pensar nesses três pontos de vista e construir
o nosso.
Coloca a autora ainda que para a alfabetização ter sentido, ser um
processo interativo, a escola tem que trabalhar com o contexto da
criança, com histórias e com intervenções das próprias crianças que
podem aglutinar, contrair, "engolir" palavras, desde que essas
palavras ou histórias façam algum sentido para elas. Os "erros" das
crianças podem ser trabalhados, ao contrário do que a maioria das
escolas pensam, esses "erros" demonstram uma construção, e com o
tempo vão diminuindo, pois as crianças começam a se preocupar com
outras coisas (como ortografia) que não se preocupavam antes, pois
estavam apenas descobrindo a escrita.
"Analisar que representações sobre a escrita que o estudante tem é
importante para o professor saber como agir", afirma Telma Weisz,
consultora do Ministério da Educação e autora de tese de doutorado
orientada por Emília Ferreiro. "Não é porque o aluno participa de
forma direta da construção do seu conhecimento que o professor não
precisa ensiná-lo", ressalta. Ou seja, cabe ao professor organizar
atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre a escrita,
porque é pensando que ela aprende.
"Apesar de ter proporcionado aos educadores uma nova maneira de
analisar a aprendizagem da língua escrita, o trabalho da
pesquisadora argentina não dá indicações de como produzir ensino",
avisa a educadora Telma. Definitivamente, não existe o "método
Emília Ferreiro", com passos predeterminados, como muitos ainda
possam pensar. Os professores têm à disposição uma metodologia de
ensino da língua escrita coerente com as mudanças apontadas pela
psicolinguista, produzida por educadores de vários países.
"Essa metodologia é estruturada em torno de princípios que organizam
a prática do professor", explica Telma. O fato de a criança aprender
a ler e escrever lendo e escrevendo, mesmo sem saber fazer isso, é
um desses princípios. Nas escolas verdadeiramente construtivistas,
os alunos se alfabetizam participando de práticas sociais de leitura
e de escrita. A referência de texto para eles não é mais uma
cartilha, com frases sem sentido.
"... A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a
qual, por trás da mão que pega o lápis,
dos olhos que olham, dos ouvidos que escutam,
há uma criança que pensa" (Emília Ferreiro)

Cremos oportuno lembrar que o construtivismo não é um método de
ensino. Construtivismo se refere ao processo de aprendizagem, que
coloca o sujeito da aprendizagem como alguém que conhece e que o
conhecimento é algo que se constrói pela ação deste sujeito. Nesse
processo de aprendizagem o ambiente também exerce seu papel, pois, o
sujeito que conhece faz parte de um determinado ambiente cultural.
Segundo Magda Soares*, a perspectiva construtivista trouxe
importantes e diferentes contribuições para a alfabetização:
[...]Alterou profundamente a concepção do processo de construção
da representação da língua escrita, pela criança, que deixa de
ser considerada como dependente de estímulos externos para
aprender o sistema de escrita, concepção presente nos métodos de
alfabetização até então em uso, hoje designados tradicionais, e
passa a sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir
esse sistema de representação, interagindo com a língua escrita
em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com
material para ler, não com material artificialmente produzido
para aprender a ler; os chamados para a aprendizagem pré-
requisitos da escrita, que caracterizam a criança pronta ou
madura para ser alfabetizada - pressuposto dos métodos
tradicionais de alfabetização - são negados por uma visão
interacionista, que rejeita uma ordem hierárquica de
habilidades, afirmando que a aprendizagem se dá por uma
progressiva construção do conhecimento, na relação da criança
com o objeto língua escrita; as dificuldades da criança no
processo da construção do sistema de representação que é a
língua escrita- consideradas deficiências ou disfunções, na
perspectiva dos métodos tradicionais - passam a ser vistas como
erros construtivos, resultado de constantes reestruturações
Vera Lúcia Camara Zacharias é mestre em Educação, Pedagoga,
consultora educacional, assessora diversas instituições, profere
palestras e cursos, criou e é diretora do CRE.

Fontes:
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A criança na fase inicial da escrita: a
Alfabetização como processo discursivo/7. ed. - São Paulo: Cortez, 1996.
Revista Nova Escola Janeiro/Fevereiro de 2001
* Citação extraída do artigo Letramento e alfabetização: as muitas
facetas, de Magda Soares, apresentado na 26ª Reunião Anual da ANPED. GT
Alfabetização, Leitura e Escrita. Poços de Caldas, 7 de outubro de 2003.
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