HÉLIO SCHWARTSMAN
O bullying
SÃO PAULO - O bullying é por vezes um problema
real que exige medidas drásticas. Assim, é positivo que a Justiça esteja
prestando atenção ao fenômeno e já tenha até condenado alguns adolescentes à
prestação de serviços comunitários, como mostrou a Folha na edição de domingo. Para conviver
bem em sociedade, precisamos aprender a respeitar certos limites de
agressividade no trato com terceiros.
O mundo, porém, é um lugar mais complexo e multifacetado do que querem
as narrativas de que nos valemos para dar sentido às coisas. Declarar guerra
ao bullying e propugnar por uma política de tolerância zero funciona mais
como slogan publicitário que como remédio eficaz.
De acordo com a psicóloga Helene Guldberg, da Open University de
Londres, há uma histeria em torno do tema que já pode estar produzindo mais
mal do que bem (vale frisar aqui que ela fala primordialmente da realidade
anglo-saxônica, onde as campanhas contra o bullying são muito mais intensas e
existem há bem mais tempo do que no Brasil).
Segundo Guldberg, é perfeitamente saudável que um jovem não goste de
um de seus colegas e expresse esse sentimento. Isso ocorre o tempo todo entre
adultos e não é um problema. Crianças precisam aprender a lidar com
inimizades, rejeições e agressividade, com as quais terão de conviver ao
longo dos anos. Ela cita trabalhos sugestivos de que ter um inimigo na
infância pode, na verdade, até fazer bem para o adulto.
Não se trata, é claro, de abandonar a garotada à própria sorte e
deixar que a seleção darwiniana opere livremente nos playgrounds, elegendo os
sobreviventes. Precisamos, porém, ser honestos para reconhecer que as
dinâmicas do relacionamento entre jovens não podem ser resumidas numa luta
das vítimas boazinhas contra agressores malvados. A intervenção de adultos
cristalizando esses rótulos pode até mesmo revelar-se um tiro pela culatra.
helio@uol.com.br
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terça-feira, 1 de maio de 2012
BULLYING E A TOLERÂNCIA ZERO
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